por Fred Coelho
Antes de tudo, pense que vivemos apenas o presente. Tanto o futuro quanto o passado são meras consequências de nossas possibilidades e limites dos tempos de hoje. O NOVO deve ser entendido como a garantia de um presente em permanente movimento, articulando seus legados e suas posteridades. Novas possibilidades de rever o que foi feito alimentam novas possibilidades do que virá.
A música feita no século XXI não escapa desse dilema. Quando pensamos em NOVAS TENDÊNCIAS da música contemporânea, encontramos artistas que investem exatamente na encruzilhada histórica da música ocidental. Barreiras estéticas do século XX são abolidas no encontro criativo entre gêneros da cultura pop, tecnologias de gravação e experimentações eruditas. Instrumentos e telas tornam-se extensões de um mesmo delírio sonoro através do mundo. Linguagens da música eletrônica dos últimos cinquenta anos são sobrepostas em camadas de recursos técnicos e softwares de última geração. Na música contemporânea, e em todo o mundo, vivemos o NOVO como invenção permanente de todos os tempos. O novo que alimenta as invenções livres, mergulhando artistas em transes místicos-sintéticos de sons atonais e na insanidade do excesso de distorções.
Os desertos musicais hipnóticos de Sun Araw, as camadas e costuras complexas de referências synth pop de Com Truise, o minimalismo clássico e as texturas trágico-sagradas de Murcof, a convivência tensa entre o ruído e a beleza sonora nos transes de Mark McGuire, ou a quase alegria cinza e sombria das batidas de Andy Stott, todos esses sons obscuros e, ao mesmo tempo, iluminadores máximos do que temos pela frente, confirmam que os atuais tempos na música experimental nos transformam em ouvintes privilegiados frente a novas possibilidades digitais. A estrada do futuro não termina, a fonte do passado nunca seca.
Há pelas ruas, cada vez mais, toda uma geração ligada à sonoridades fora das convenções auditivas, sensitivas, tonais ou melódicas de outrora. Um admirável mundo novo musical em uma era de vocabulários robóticos e grooves cerebrais, compostos através das mesas de som analógicas ou virtuais, com seus tantos e vastos canais, filtros e softwares. Música que articula contemplação e beleza – ainda que digital – em alta voltagem.
Se os ouvintes desta nova safra de música eletrônica experimental olharem em volta e não encontrarem eco aos graves que emanam de seus fones e mentes, não se preocupem. Habitar paraísos sonoros artificiais, viver entretido com outras dimensões de tempo e espaço musicais, é um privilégio – ou uma possibilidade – cada vez maior no senso comum da mídia e do público em geral. Neste festival, os pequenos espaços físicos da cidade dedicados ao gênero se expandem velozes nas redes e hubs da terra e das redes sociais. NOVAS FREQUÊNCIAS não é apenas um evento sobre música. É também um evento sobre outro tempo e espaço no Rio de Janeiro do século XXI. Passado, presente e futuro.
Fred Coelho é pesquisador, ensaista e professor de literatura da PUC-RIO.