A festa

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A festa dessa edição do Novas Frequências vai ter um gosto especial pra quem curte grave. O local, o Antonieta, na Lapa, evoca um clima de mistura e pluralidade que cria o cenário tropical perfeito para uma festa que investiga a África e suas diásporas. Com capacidade para 600 lugares, a casa deve ferver no dia 4 com um lineup bem variado e extremamente reconhecido: The Bug ft. Miss Red (acima), Auntie Flo​ & Esa​, Marginal Men​ + DJ Sydney​, e Pigmalião.

The Bug ft. Miss Red é Jamaica via Brixton: toda a tradição do reggae e do dub através do filtro urbanóide e hooligan inglês, por um dos maiores do mundo quando o assunto é graves e sub-graves. Já a dupla Auntie Flo & Esa mergulha fundo em ritmos latinos e africanos apimentando sua mistura de house e techno. Do Rio, a parceria entre Marginal Men + DJ Sydney atualiza o funk para o século 21. Também carioca, Daniel Lucas, através da alcunha Pigmalião, funde referências regionais e raízes latino-americanas com sons específicos de outras partes do mundo.

Vale mencionar que Kevin Martin, o “The Bug”, também toca no Novas Frequências com o seu trio King Midas Sound, um projeto de eletrônica pesada, psicodelia, lovers rock e hip-hop abstrato.

A mostra de filmes

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Na quinta edição do Novas Frequências, acontecerá, pela primeira vez, uma mostra de filmes. Serão seis longa-metragens, entre documentários, filmes de arte e experimentos imagéticos, a serem apresentados na Audio Rebel, nos dias 1, 2, 3, 4, 7 e 8 de dezembro. Todos tratam, em medidas diferentes, do fenômeno sonoro e de suas implicações, do barulho através dos diversos prismas, métodos, expressões e esferas da cinematografia.

Brazil 84 é parte da série do artista multidisciplinar Phill Niblock (que também tocará no festival, junto com Thomas Ankersmit, no dia 5) The Movement of People Working (acima). São imagens em 16mm que trazem longos takes sem edição, cuidadosamente moldados para comprimir movimentos individuais. As imagens são filmadas em ambientes rurais e urbanos, capturando as pessoas em seus ambientes de trabalho, homens e mulheres usando as mãos e o corpo para uma coreografia de trabalho eterna que parece sintonizada com o universo da música microtonal de Niblock.

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Em Phantom Nebula (acima), Makino Takashi tenta criar um estado de frenesi através da múltipla exposição e da superimposição, e acaba deixando um rastro da ideia de que o caos abstrato existe sempre dentro de um tipo de ordem transcendental. Formado em cinema pela Nihon University of Art, Takashi se muda para Londres para se dedicar ao estudo das técnicas de cinema musical, fotografia e luz. Ele passa a produzir seus filmes depois de retornar ao Japão em 2004, influenciado por Jim O’Rourke, com quem teve contato na mesma época. Desde então, Takashi passou a desafiar a produção cinematográfica tradicional, se utilizando de transfers digitais, edição de taxas de quadros por segundo e sobreposição de camadas visuais e sonoras para o limite da tecnologia digital e do cinema e da música abstratos.

Taking the Dog for a Walk (abaixo) apresenta um mapa da cena musical de improvisação livre na Grã Bretanha, tanto do passado quanto do presente. O documentário alterna sequências musicais extensas a conversações lideradas que gravitam em torno das idiossincrasias da improvisação. Num trabalho escultural de pesquisa em arquivos de filmagem, o documentário analisa a rede de pequenos pontos de encontros e selos que ajudaram a moldar este nicho da cena musical britânica.

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What We Leave Behind é uma peça sonora composta somente por material inédito de fragmentos de som que foram gravados nos sets dos filmes de Jean-Luc Godard, mas que acabaram nunca sendo publicados. A composição de sons, redescoberta por acidente em algum lugar da França, nos mostra um arquivo audiovisual muito real (no sentido de autêntico, sincero) e de certa forma esquecido pelo diretor. Direções de palco, a atmosfera dos sets de gravação, falsos começos, novas tomadas e todos esses detalhes de cada momento que geralmente passam imperceptíveis, mas são, em última instância, o que nós deixamos de legado para a eternidade.

Learning to Listen é um documentário produzido pela Deaf Pictures que cruza as linhas divisórias entre a música experimental e a arte sonora. O filme apresenta uma série de depoimentos de artistas importantes sobre seu trabalho em relação a pensamento e processo criativo ao mesmo tempo em que explora cenas de performance, improvisação, tecnologia e arte sonora. O documentário espera brindar uma nova audiência com informações sobre técnicas de composição experimentais e não-comerciais, ao mesmo tempo que deve apelar à sensibilidade de músicos já praticantes e profissionais intimamente ligados ao ramo.

E Um Ouvido por um Olho, de Lilian Zaremba, dá continuidade ao trabalho acadêmico de Lilian, partindo de uma premissa cageana: a de que, mesmo em silêncio, estamos banhados em música. Os ruídos, os tique-taques, a nossa própria respiração e nossos batimentos cardíacos, tudo isso nos envolve a todo tempo, e musicar é só organizar esses elementos e trazê-los à tona como “música” propriamente dita. Até que ponto a imagem é uma transmissão radiofônica, e até que ponto as impressões visuais são como parte de uma impressão sonora que as englobam? Se a música leva a mapas visuais e os ouvidos podem ver, rugir, ao captarem o grito mudo das imagens, o que é exatamente o cinema, e o que é o rádio?

As questões abordadas em cada um dos filmes dialogam de determinada maneira com o Novas Frequências e sua intenção primeira, bem como com o tema específico dessa edição. Todos eles esperam atravessar esse “ouvinte visual” e causar uma ebulição de imaginários sonoros numa época em que a transmissão de mídia foi massificada, globalizada, praticamente universalizada, em velocidade nauseante, e os hiper-estímulos dissipam a catarse, engolindo a capacidade de experienciar o som (e a imagem sonora) em estado puro.

Sobre “Delivered in Voices”, performance inédita de Tunga

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Nesse Novas Frequências, pela primeira vez em sua carreira, Tunga cria uma instalação (ou, como ele prefere chamar, uma “instauração”) sonora. Escultor, desenhista e performista, dono de um pavilhão inteiro em Inhotim, Tunga praticamente dispensa apresentações: é um dos artistas mais renomados e um dos mais influentes do país, já tendo obras expostas em Nova Iorque e em Paris.

A instauração propriamente dita, Delivered in Voices, é uma composição de múltiplos elementos, aberta para a interação performática – três estruturas de ferro, que chamamos de tripé, circundam uma quarta estrutura de semelhante forma, e para cada uma dessas três estruturas, temos três diferentes artefatos protagonistas: um meteoro, um cristal de rocha, e uma “Espada de São Jorge”.

Para cada tripé, existem alto falantes virados na direção destes diferentes protagonistas. Em um deles, a Espada de São Jorge “ouve” gravações de sessões de exorcismo. Em um outro tripé; o meteoro “ouve” a gravação de Dylan Thomas recitando poemas. No terceiro tripé periférico, o áudio de uma matilha da lobos, uivando em seu habitat selvagem está direcionado através de seus alto falantes, para o cristal de rocha ‘ouvir”. Nos resta o tripé central, composto de um sino de cerâmica pendurado, grande o bastante para que um adulto se acomode, de pé, confortavelmente; de maneira que sua cabeça e parte de seu torso desapareça. Dentro do vaso de cerâmica existem três microfones, cada um capta a voz e joga para o seu tripé periférico correspondente, que propaga o som, criando desta forma, um clima de algaravia na instauração.

Em cada dia da performance, um artista diferente colaborará e complementará a obra de Tunga, de acordo com suas qualidades e intenções específicas, o que torna as apresentações flexíveis, imprevisíveis, até circunstanciais. Nesse papel de “interferir” na apresentação, estarão: Ava Rocha & Eduardo Manso, Barrão, DEDO, Dissonâmbulos, Félicia Atkinson, Lilian Zaremba & Fred Paredes, Lucas Santtana, Luísa Nóbrega, Meteoro, N-1, Thingamajicks & Marcelo Mudou

The Wire – Below the Radar Edição Especial Novas Frequências

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O Novas Frequências assina uma compilação gratuita (para assinantes) com 18 faixas de música brasileira produzidas em 2015 na última edição da revista britânica The Wire. Além de servir como uma introdução para o próprio festival, essa edição especial da “Below the Radar” serve também como bússola para a ebulição cultural (principalmente da cultura de vanguarda) que está sendo fomentada no Brasil.

A compilação inclui sons dos seguintes artistas: Superfície, Marginal Men & Pinguim Pablo, ÀTTØØXXÁ, Juçara Marçal & Cadu Tenório, Bemônio, Chelpa Ferro, Bestiarium, Chinese Cookie Poets & Bill Orcutt, Negro Leo, God Pussy, Thiago Miazzo, M. Takara, Ricardo Dias Gomes, Thingamajicks, MYMK, Psilosamples, Grassmass e Repetentes 2008.