Na quinta edição do Novas Frequências, acontecerá, pela primeira vez, uma mostra de filmes. Serão seis longa-metragens, entre documentários, filmes de arte e experimentos imagéticos, a serem apresentados na Audio Rebel, nos dias 1, 2, 3, 4, 7 e 8 de dezembro. Todos tratam, em medidas diferentes, do fenômeno sonoro e de suas implicações, do barulho através dos diversos prismas, métodos, expressões e esferas da cinematografia.
Brazil 84 é parte da série do artista multidisciplinar Phill Niblock (que também tocará no festival, junto com Thomas Ankersmit, no dia 5) The Movement of People Working (acima). São imagens em 16mm que trazem longos takes sem edição, cuidadosamente moldados para comprimir movimentos individuais. As imagens são filmadas em ambientes rurais e urbanos, capturando as pessoas em seus ambientes de trabalho, homens e mulheres usando as mãos e o corpo para uma coreografia de trabalho eterna que parece sintonizada com o universo da música microtonal de Niblock.
Em Phantom Nebula (acima), Makino Takashi tenta criar um estado de frenesi através da múltipla exposição e da superimposição, e acaba deixando um rastro da ideia de que o caos abstrato existe sempre dentro de um tipo de ordem transcendental. Formado em cinema pela Nihon University of Art, Takashi se muda para Londres para se dedicar ao estudo das técnicas de cinema musical, fotografia e luz. Ele passa a produzir seus filmes depois de retornar ao Japão em 2004, influenciado por Jim O’Rourke, com quem teve contato na mesma época. Desde então, Takashi passou a desafiar a produção cinematográfica tradicional, se utilizando de transfers digitais, edição de taxas de quadros por segundo e sobreposição de camadas visuais e sonoras para o limite da tecnologia digital e do cinema e da música abstratos.
Taking the Dog for a Walk (abaixo) apresenta um mapa da cena musical de improvisação livre na Grã Bretanha, tanto do passado quanto do presente. O documentário alterna sequências musicais extensas a conversações lideradas que gravitam em torno das idiossincrasias da improvisação. Num trabalho escultural de pesquisa em arquivos de filmagem, o documentário analisa a rede de pequenos pontos de encontros e selos que ajudaram a moldar este nicho da cena musical britânica.
What We Leave Behind é uma peça sonora composta somente por material inédito de fragmentos de som que foram gravados nos sets dos filmes de Jean-Luc Godard, mas que acabaram nunca sendo publicados. A composição de sons, redescoberta por acidente em algum lugar da França, nos mostra um arquivo audiovisual muito real (no sentido de autêntico, sincero) e de certa forma esquecido pelo diretor. Direções de palco, a atmosfera dos sets de gravação, falsos começos, novas tomadas e todos esses detalhes de cada momento que geralmente passam imperceptíveis, mas são, em última instância, o que nós deixamos de legado para a eternidade.
Learning to Listen é um documentário produzido pela Deaf Pictures que cruza as linhas divisórias entre a música experimental e a arte sonora. O filme apresenta uma série de depoimentos de artistas importantes sobre seu trabalho em relação a pensamento e processo criativo ao mesmo tempo em que explora cenas de performance, improvisação, tecnologia e arte sonora. O documentário espera brindar uma nova audiência com informações sobre técnicas de composição experimentais e não-comerciais, ao mesmo tempo que deve apelar à sensibilidade de músicos já praticantes e profissionais intimamente ligados ao ramo.
E Um Ouvido por um Olho, de Lilian Zaremba, dá continuidade ao trabalho acadêmico de Lilian, partindo de uma premissa cageana: a de que, mesmo em silêncio, estamos banhados em música. Os ruídos, os tique-taques, a nossa própria respiração e nossos batimentos cardíacos, tudo isso nos envolve a todo tempo, e musicar é só organizar esses elementos e trazê-los à tona como “música” propriamente dita. Até que ponto a imagem é uma transmissão radiofônica, e até que ponto as impressões visuais são como parte de uma impressão sonora que as englobam? Se a música leva a mapas visuais e os ouvidos podem ver, rugir, ao captarem o grito mudo das imagens, o que é exatamente o cinema, e o que é o rádio?
As questões abordadas em cada um dos filmes dialogam de determinada maneira com o Novas Frequências e sua intenção primeira, bem como com o tema específico dessa edição. Todos eles esperam atravessar esse “ouvinte visual” e causar uma ebulição de imaginários sonoros numa época em que a transmissão de mídia foi massificada, globalizada, praticamente universalizada, em velocidade nauseante, e os hiper-estímulos dissipam a catarse, engolindo a capacidade de experienciar o som (e a imagem sonora) em estado puro.