Entre os dias 01 e 14 de dezembro acontece a 4ª edição do Novas Frequências, festival internacional de música experimental conectado às novas tendências contemporâneas, que surgiu em 2011 no Rio de Janeiro. A edição de 2014 reúne um total de 33 atrações de 11 países diferentes e ocupará seis espaços na cidade carioca: Oi Futuro Ipanema, Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, Casa Daros, Audio Rebel, La Paz e POP – Polo de Pensamento Contemporâneo. Sempre em busca de artistas que rompem com fronteiras pré-estabelecidas em busca de novas linguagens sonoras, a programação do festival engloba shows, performances resultantes de residências artísticas, um panorama da música experimental brasileira, oficinas, festas, sound walks e discussões sobre música contemporânea, processo criativo e mercado.
Fruto da parceria entre os produtores culturais Chico Dub e Tathiana Lopes, o Novas Frequências busca diversidade e o uso criativo de ferramentas tecnológicas em meio ao que podemos batizar de fine arts da música contemporânea. Não à toa, muitos dos artistas da programação se apresentam não somente em palcos de festivais, clubes e casas de shows, como também em museus, galerias e eventos associados às artes plásticas. São artistas com promissoras carreiras dentro da vanguarda que lançam seus trabalhos por selos fonográficos de respaldo e que frequentemente são destacados nas mais importantes publicações da chamada nova música, como: The Wire, FACT, Resident Advisor e The Quietus.
Considerado o Melhor Festival do Rio de acordo com o Prêmio Noite Rio 2013, o Novas Frequências só realiza apresentações inéditas no país. Ou seja: todos os artistas trazidos pelo festival nunca tocaram no Brasil antes. No caso dos artistas nacionais, a curadoria prima por apresentações que nunca ocorreram antes na cidade – seja trazendo artistas de outros estados que ainda não tocaram na cidade; seja propondo performances comissionadas de artistas residentes.
A 4ª edição do Novas Frequências possui diversos eixos curatoriais, recortes esses que se cruzam e estabelecem novas conexões. O mais extenso deles reúne artistas que de alguma forma se apropriam de células rítmicas e melódicas de outros continentes que não os seus para desenvolverem a sua própria sonoridade. Novo projeto do escocês William Bennet, o Cut Hands mistura techno e noise com percussão de rituais vudu do Haiti. De Portugal, o DJ Marfox pesquisa batidas dos países africanos-lusófonos para criar uma música eletrônica altamente explosiva.
Frisk Frugt é um dinamarquês que combina a música folclórica do seu país com melodias gravadas in loco em viagens pelo Mali e Burkina Faso. Um dos mais conhecidos nomes da música ambiente transcendental (ou “música celestial”, como o próprio costuma afirmar) é o norte-americano Laraaji – seu ponto de partida é a Índia e demais regiões do Oriente. Projeto dos músicos ingleses de jazz e improvisação livre, John Butcher e Mark Sanders, o Tarab Cuts atualiza a música árabe e sufi do início do século 20.
Outro flerte do festival este ano diz respeito a uma abordagem totalmente única e radical em relação a instrumentos musicais caríssimos à música Ocidental. Além dos citados músicos que fazem parte do Tarab Cuts, há ainda o pianista ucraniano Lubomyr Melnyk, o criador da “música contínua”, uma linguagem para piano que estabelece um fluxo contínuo e ininterrupto de som. Outro artista que utiliza um instrumento como ninguém, neste caso o violão, é o norte-americano Bill Orcutt. Nas suas mãos, um violão nunca havia soado tão punky e bluesy ao mesmo tempo. O Brasil está bem representado por J.-P. Caron & Marcos Campello, respectivamente com piano preparado e guitarra (“Oco”, trabalho lançado pela dupla este ano, é um dos melhores de 2014). A terceira pianista da lista é a erudita Joana Gama, uma detentora de diversos prêmios em Portugal que, ao lado do experimentalista eletrônico Luís Fernandes, apresenta o projeto QUEST. A norte-americana Ashley Paul leva ao palco um eclético set-up que forja uma sonoridade muito mais próxima de uma banda do que de um artista solo, tocando simultaneamente múltiplos instrumentos enquanto canta.
A eletrônica experimental também ocupa um território importantíssimo no Novas Frequências. Nesta 4º edição, inclusive, com alguns dos nomes mais celebrados do mundo. Ben Frost é um australiano radicado na Islândia que faz um som brutal e agressivo com influências de música minimalista, black metal e noise. O finlandês Sasu Ripatti se apresenta duas vezes no festival. Em uma proposta mais ambient, utiliza seu mais conhecido nome artístico, Vladislav Delay. E com uma faceta mais pista, a alcunha Rippati. O alemão Rashad Becker só possui um disco em sua carreira, porém, sob certos aspectos (frequências, timbres, sub graves) é o artista que mais contribuiu para a estética sonora da música contemporânea de vanguarda em função de seu trabalho como engenheiro de som responsável por corte e masterização de discos de vinil. Mark Fell combina gêneros eletrônicos populares com composições criadas no computador baseadas em algoritimos e sistemas matemáticos. Artista sonoro e designer gráfico inglês, Fell também se apresenta no Novas Frequências como Sensate Focus – alcunha utilizada por ele para explorar os elementos clássicos da música de pista – e em uma especialíssima colaboração com o mago dos sintetizadores analógicos Keith Fullerton Whitman (que também se apresenta solo).
Pela primeira vez o festival conta com artistas portugueses no line-up. E não é uma coincidência. Portugal é hoje berço de uma das cenas mais interessantes no que diz respeito a explorações sonoras. Existem selos musicais como Príncipe, PAD e Pataca, festivais como Semibreve e Madeira Dig, excelentes espaços para shows como o Teatro Maria Matos e a Casa da Música, espaços para residências como a Galeria Zé dos Bois e produtoras como a Filho Único. Ao lado do DJ Marfox e da dupla por trás do QUEST, ainda há as paisagens contemplativas e viajantes do The Astroboy.
Os britânicos mais uma vez chegam em peso ao Novas Frequências graças a sólida parceria institucional com o Transform, o programa de artes do British Council. Todos eles participam do Talking Sounds, série de discussões sobre música contemporânea e processos artísticos. São eles: Cut Hands, John Bucher & Mark Sanders, Mark Fell e Philip Jeck. Este último participa de uma série de atividades no festival, sendo que o destaque fica por conta de sua performance resultante da residência artística que irá desenvolver no Rio – aliás, a primeira residência instituida pelo Novas Frequências. Jeck, artista sonoro que costuma trabalhar com toca discos dos anos 50 e 60 e discos de vinil descartados, estará em busca de materiais encontrados em sebos da cidade e em acervos de colecionadores.
Ainda falando em arte sonora, a segunda residência artística do festival será a do “nova-iorquino-japonês” Aki Onda, artista que virá ao Rio gravar os sons ambientes da cidade (prática conhecida como “field recordings” ou “gravações de campo”) para utilizá-las em uma performance especial. Quem dialoga conceitualmente com Onda é Vivian Caccuri. Paulistana baseada no Rio, Caccuri é autora da chamada “Caminhada Silenciosa”. São passeios por pontos de interesse sonoro e geográfico que nos últimos meses tem atraído a atenção de cariocas e estrangeiros. Durante esses passeios, que geralmente duram 8 horas, a fala é proibida; tudo com o intuito de se prestar mais atenção aos sons da urbe.
Os brasileiros fazem a festa no Novas Frequências. São 13 atrações no total, sendo que três delas comissionadas pelo festival. Há a “batalha” entre as máquinas de techno e house dos selos cariocas 40% Foda/ Maneiríssimo e Domina; o back to back entre o (novo) funk carioca do Omulu com os “funks cariocas do mundo”, do Maga Bo; e o Quintavant Ensemble, um verdedeiro “quem é quem” da nova cena de música experimental carioca que conta com 13 representantes dos grupos Bemônio, Chelpa Ferro, DEDO, Chinese Cookie Poets, Baby Hitler, Biu, Sobre a Máquina e Duplexx. A novíssima música eletrônica baiana vem sendo chamada de “bahia bass” e será representada no festival por Mauro Telefunksoul, espécie de organizador do movimento, e Som Peba. O paulistano Carlos Issa é uma importante figura que transita entre as artes plásticas e a música experimental. Ele apresenta com o projeto solo de techno ruidoso Hojer Yama e com a lendária Auto, banda entre o punk, o noise, o improv e a eletrônica. Quem também opera nesta linha é o duo pousoalegrense Osvardo. Iridescent e Bruno Real, o primeiro de São Paulo e o segundo de Curitiba, completam a lista. São dois dos nomes mais everfescentes do novo techno e do novo house produzidos no país. Finalmente, o cantor e produtor Serge Erège, um dos novos destaques da noite paulistana.
Importante citar que o Novas Frequências é o mais novo membro do ICAS (International Cites Of Advanced Sound), network que reúne alguns dos mais importantes festivais de culturas sonoras avançadas, música de vanguarda e artes relacionadas como o Mutek (Montreal, Canadá), Unsound (Cracóvia, Polônia), CTM (Berlim, Alemanha), Future Everything (Manchester, Inglaterra) e TodaysArt (Haia, Holanda). O ICAS tem como objetivo estimular o diálogo, a troca de conhecimentos e o apoio mútuo entre organizações internacionais envolvidas com música e sons avançados. Desta forma ele promove a comunidade e a colaboração ao invés da competição entre empreendedores culturais. É uma plataforma criativa para a auto-reflexão e aprendizagem em um nível global, convocando seus membros para se reinventarem constantemente.
O Novas Frequências é realizado pela Cardápio de Ideias Comunicação e Eventos e conta com o patrocínio master da Oi, do Governo do Rio de Janeiro, da Secretaria de Estado de Cultura e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro; patrocínio da Skol Music; parceria institucional do British Council e do SESI Cultural; apoio de mídia da revista inglesa The Wire; e apoio da Secretaria Municipal de Cultura, ICAS, Arts Council England, Creative Scotland, DGArtes – Governo de Portugal, Jazz Denmark, Casa Daros, Pequena Central e Meli-Melo.
Artistas 2014 em ordem alfabética
Ficha Técnica
Chico Dub – Idealização, direção artística e curadoria
Curador e diretor artístico do festival de música exploratória Novas Frequências, Chico Dub é coordenador do projeto de programação cultural do novo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Assinou em 2014 e 2013 a curadoria do Eletronika, festival de novas tendências musicais baseado em Belo Horizonte. Mr.X da Red Bull Music Academy, Chico Dub também é curador das performances audiovisuais da 2ª edição do SESI Cultura Digital, evento que será realizado em outubro no Rio. É idealizador e curador da série de coletâneas Hy Brazil, registro que tem como objetivo mapear e divulgar a nova produção eletrônica e experimental brasileira – até o momento já foram lançados 6 volumes. Foi um dos curadores e relações públicas do Sónar São Paulo 2012. Foi co-idealizador e co-curador dos festivais Invasão Paraense e Invasão Baiana, série criada para os CCBBs de Brasília e São Paulo em 2012 e 2014. De 2007 a 2011, foi assistente de direção do festival de performances audiovisuais Multiplicidade. Em 2008, assinou a curadoria do Sky Lounge Multimídia, evento de música e performances audiovisuais que aconteceu no Memorial da América Latina. É co-idealizador e roteirista do documentário Dub Echoes, primeiro longa-metragem a mostrar a importância do dub jamaicano para o nascimento do hip-hop e da música eletrônica.
Tathiana Lopes/ Cardapio de Ideias Comunicação e Eventos – Realização, direção de produção e produção executiva
Tathiana Lopes é fundadora e diretora da Cardápio de Ideias Comunicação e Eventos, agência de conteúdo e produção, realizadora do Festival Novas Frequências.Foi responsável pela elaboração e produção da Mostra de cinema latino americano Cine Daros para Casa Daros; Projeto Paisagem de Vik Muniz para Rio+20 em parceria com O Globo, Coca Cola e Ministério do Meio Ambiente; Lançamento do Documentário Lixo Extraordinário indicado ao Oscar; Inauguração da Casa Daros – Museu de Arte Latino Americana. Coordenou por 2 anos os grandes espetáculos do Festival Multiplicidade no Oi Casa Grande; desenvolveu e produziu eventos como Estúdio Coca Cola, Grande Prêmio Brasil do Jockey, 30 Anos do Shopping Rio Sul, além de ações e eventos especiais para empresas como Coca Cola, O Globo, Natura, Shell, Vale, Petrobrás, entre outras. Nos últimos anos ministrou palestras para as principais universidades de comunicação como ESPM, Facha e PUC. www.cardapiodeideias.com.br