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Tathiana Lopes

“Acima de tudo, não tenha medo dos momentos difíceis. O que há de melhor vem com eles” 

Rita Levi Montalcini

Voltando ao que eu escrevi em 2017 nessa mesma época, para lançar a 7ª edição do festival, me dei conta de que, o que eu pensava há um ano, infelizmente cabe perfeitamente no momento que vivemos hoje:

“O desafio de trabalhar com arte no Brasil segue num crescente assustador. Em pleno 2017, as pautas giram em torno de censuras e discussões tendenciosas e opressoras, que distorcem o real valor que a cultura e a arte representam. Estamos regredindo a passos largos, e numa velocidade espantosa, caminhando numa direção que causa prejuízos sem fim. O que estamos vivendo vai além de uma crise política e econômica, estamos perdendo valores fundamentais que interferem na maneira como nos relacionamos e nos desenvolvemos como sociedade… Arte é educação e não pode desacreditada como estão tentando fazer de forma tão arbitrária. É através da educação e pela arte que conhecemos nossa história, nossos valores, heranças e tradições. Ampliamos nosso conhecimento e percepção de mundo, alargamos nossa visão enquanto indivíduos dentro de toda diversidade em que vivemos. É o que nos garante uma identidade.”

O Novas Frequências é um festival de investigação, inovação, de incontáveis possibilidades, que estimula e aposta no original, no inédito, nos tira do lugar comum, amplia nossas perspectivas, nos leva a muitos lugares. Um espaço que sempre nos permitiu experimentar, misturar, ousar.

Deveriam sobrar motivos para comemorar chegarmos a mais uma edição, e com ela a possibilidade de trazer novos olhares, explorar novos caminhos e experiências. Chegamos ao oitavo ano de um festival que, até aqui, apesar de todos os desafios, foi feito de muitos sucessos, colaborações fundamentais e reuniu inúmeras histórias. Mas 2018, um ano com diferentes perspectivas – que na reta final nos deixou à flor da pele, e nos encheu de esperança com a chance de uma eventual virada e a garantia de continuarmos a viver numa democracia, – infelizmente, no entanto, nos colocou numa realidade muito diferente, num cenário cruel e atroz, que nos obriga não só a fazer uma profunda reflexão, como rever nossos passos e principalmente nosso olhar para o futuro.

E chegar até aqui, obrigada a rever e avaliar nossas expectativas, onde a diversidade, a democracia, e o futuro estão em risco real e pujante, onde o novo e o diferente geram medo e violência, onde a cultura, história e memória são colocados à prova e dão lugar ao autoritarismo, ao radicalismo e a repressão, reforçadas por quem está logo ali, ao nosso lado, torna quase impossível ser otimista e comemorar qualquer coisa.

Nosso tema esse ano é o “infinito”, palavra que carrega inúmeros simbolismos e significados: é imenso, contínuo e indeterminado. E nós, que trabalhamos com arte e cultura, sabemos o que o essas palavras/conceitos representam, o quanto é necessário resistir, insistir, ir na contramão e nos reinventarmos de forma incessante. Sabemos bem o quanto é fundamental buscarmos fôlego e seguirmos acreditando e fazendo. Por isso, a 8ª edição do Festival Novas Frequências chega para potencializar nossa vontade de continuar resistindo, arriscando e fazendo.

Que sejamos inúmeros e ilimitados nessa resistência que se faz fundamental e indispensável. “Ninguém solta a mão de ninguém”.